janeiro 12, 2007

Fora da realidade

Plano de Bush para o Iraque esbarra num erro de origem: o mundo não se divide em "defensores da liberdade" e "malvados terroristas"
Foi anunciado neste dia 9 de janeiro o plano do governo estadunidense para dar novos rumos à Guerra do Iraque. Como principal característica do plano, e do discurso do presidente-no-mundo-das-bolhas (ver abaixo), destaca-se o total descolamento da realidade, retratando este conflito como parte da grande "Guerra ao Terrorismo" – uma idéia simplista e maniqueísta que ignora as realidades sociais, o multiculturalismo e sobretudo as relações hegemônicas de poder político e econômico estabelecidos na "sociedade global". Segundo o alienado presidente, "O desafio no Oriente Médio é mais do que um conflito militar, é a luta ideológica decisiva de nossa época; de um lado estão os que acreditam em liberdade e moderação. De outro, os extremistas que matam inocentes.” Simples assim. Os moderados e liberais contra os extremistas que matam inocentes...

Extremistas matam inocentes... O que isso me faz lembrar?
No mesmo dia em que o presidente dizia estas belas palavras, aviões da Força Aérea dos Estados Unidos bombardeavam aldeias ao sul da Somália, visando atingir "membros da Al-Qaeda" responsáveis por ataques a alvos estadunidenses. Até o momento não foi confirmada a morte de nenhum terrorista, ao passo que os relatos indicam mais de 100 civis mortos, incluindo mulheres e crianças atingidas enquanto fugiam da aldeia bombardeada. (Leia mais: Somali elders say civilians killed in air strike, do Middle East Online).

O PLANO PARA O IRAQUE
Segundo o plano de Bush, 17.500 soldados serão enviados a Bagdá e outros 4.000 à província de Ambar - as duas regiões mais instáveis e violentas do "Novo Iraque Democrático". Esta força será complementada por homens do exército iraquiano, e deverá sair às ruas para conter a violência inter-sectária. O governo do Iraque, por sua vez, deverá cumprir uma série de metas para conter a violência sectária e assumir a responsabilidade pela segurança do país até o fim do ano. Além disso, um pacote econômico ajudará a reconstrução do país devastado pela guerra.
No plano, não há menção à inclusão de Síria e Irã no processo diplomático, ao contrário do que sugerem nove entre dez analistas de política internacional interessados na pacificação permanente da região. Pelo contrário, o aluado presidente, em seu discurso, chegou perto de declarar guerra ao Irã, informando a disposição dos Estados Unidos em não permitir que este país desenvolva capacidade nuclear – o que novamente indica o nível de alienação a que chegou Baby Bush, pois, embora os planos de ataque ao Irã estejam prontos há muito tempo, analistas militares afirmam que os Estados Unidos não têm condições materiais e humanas de se envolver em um terceiro front, além de Afeganistão e Iraque.
Vendo o conflito com lentes completamente embaçadas, é pouco provável que o resultado da nova política de Bush seja satisfatória. O aumento de tropas realmente vinha sendo solicitado por críticos da "Doutrina Rumsfeld" (poucos homens e muita teconologia) e pelos comandantes militares no campo de batalha, para poder realmente controlar o país em guerra civil, mas este aumento, segundo estes militares e analistas, deveria ser da ordem de centenas de milhares de soldados, e não de apenas 20.000 soldados. Como afirma o jornalista David Corn, o presidente está jogando; e as fichas são as vidas dos soldados estadunidenses.

GUERRA PERDIDA = DIPLOMACIA
De qualquer forma, não é por meio do envio de mais tropas que a guerra será vencida. Em primeiro lugar, porque já foi perdida, e reconhecer isto é o primeiro passo a ser dado – embora aparentemente ninguém tenha vencido a guerra, a não ser os vendedores de armas e as empresas estadunidenses que ganharam bilhões para reconstruir o Iraque (e não reconstruíram). Co
nsiderando-se a guerra perdida, fica mais fácil uma solução diplomática envolvendo TODOS os atores regionais, visando a solução de TODOS os conflitos regionais – inluido a criação do Estado Palestino com a desocupação israelense da Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, além da desocupação israelense das Colinas de Golã (Síria) e Fazendas Cheba (Líbano), motivos principais da intransigência que toma conta da região.

NO MUNDO DAS BOLHAS
O importante seria sair do mundo das bolhas e cair no mundo da realidade, mas quem disse que o homem consegue ???
V
eja O presidente Bush e seu mundo (clique sobre o presidente com o mouse e mova-o para onde quiser)
ALTAMENTE RECOMENDADO POR SETEMBRO12 !!!

LEIA MAIS
Digging a Deeper Hole in Iraq David Corn, The Nation
Bush strategy adds more troops to failing Baghdad campaign (Middle East Online)
Bush's 'New Rambos' to Iraq draw skepticism (Middle East Online)