maio 04, 2007

Crise no governo sionista

O primeiro-ministro Ehud Olmert vinha sendo cozinhado em fogo brando; publicação de relatório aquece o óleo para sua fritura
A publicação do relatório preliminar da Comissão Winograd, que avalia a conduta do governo israelense agressão ao Líbano e guerra contra o Hizbollah empreendida em julho-agosto de 2006, deixou o já enfraquecido primeiro-ministro israelense em situação mais do que delicada. Sua renúncia é desejada pela maioria absoluta da população e exigida por líderes políticos – inclusive do próprio partido de Olmert, o Kadima, como a vice-primeira-minsitra e chanceler Tzipi Livni, estrela ascendente na política sionista.
O relatório atinge fortemente Olmert e seus dois principais assessores militares à época da ofensiva contra o Líbano: o ministro da Defesa Amir Peretz, que permanece no cargo, e o chefe do Estado-Maior militar, Dan Halutz, que renunciou em janeiro de 2007, cinco meses após a ofensiva que visava destruir o Hizbollah e resgatar os dois soldados israelenses seqüestrados – objetivos estes que não foram cumpridos.
Segundo a agência EFE, o relatório considera Olmert o responsável ministerial e pessoal pelos erros nas decisões tomadas, por ser a máxima autoridade no Governo e no Exército. Olmert teria decidido entrar no conflito de forma apressada e sem consultas adequadas ao Exército. Já o ministro da Defesa, Amir Peretz, acusado de não ter experiência militar e nem conhecimento na matéria, "não pediu nem examinou os planos do Exército, não verificou a preparação (das Forças Armadas) nem os planos apresentados pelo Exército". Ainda segundo o relatório preliminar da Comissão Winograd, o ex-chefe militar Dan Halutz é acusado de "arrogância" por tomar as decisões de forma individual, sem levar em conta as opiniões divergentes de seu Estado-Maior, e de não revelar ao governo o verdadeiro estado de coisas na esfera militar.
A revelação da conduta equivocada do primeiro-ministro e de seus assessores tem todos os ingredientes para exacerbar a insatisfação popular contra o primeiro-ministro, pois pela primeira vez em sua breve história, o Estado de Israel foi derrotado militarmente em uma guerra contra um de seus vizinhos árabes, o que certamente inaugura um novo paradigma na relação deste com seus antagonistas.

Águias e falcões à espreita
O relatório do juiz Winograd leva ao extremo uma situação que já vinha se tornando cada vez mais difícil para o governo liderado por Olmert, assolado por uma seqüência de escândalos políticos e policiais envolvendo seus assessores, e leva os analistas a especularem sobre o futuro político do país.
Embora o primeiro-ministro tenha afirmado que não vai renunciar devido aos erros cometidos na guerra, alguns cenários já se desenham para o futuro próximo. Uma opção é aquela mais desejada pela população israelense: a convocação de novas eleições parlamentares, o que provavelmente traria de volta ao poder o partido Likud (os chamados “falcões”), capitaneado pelo ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Outra opção seria a renúncia de Olmert em favor de Tzipi Livni, sua sucessora natural no partido Kadima, o que evitaria a convocação de novas eleições, porém manteria o governo nas mãos do mesmo partido responsável pelo fracasso no Líbano. Descarta-se a opção que traria de volta ao poder os trabalhistas (os “pombos”), pois o descontentamento popular em relação ao governo Olmert deve-se precisamente à sua “fraqueza” e “moderação” no trato militar com os palestinos e libaneses.
Considerando-se a origem ultranacionalista e o discurso afiado de Tzipi Livni no que diz respeito aos vizinhos árabes e ao Irã, e as já conhecidas e agressivas posições de Benjamin Netanyahu, a diferença, em termos da política externa israelense para os próximos meses, deverá ser negligenciável. Seus inimigos declarados continuarão a ser os mesmos: o Irã com pretensões nucleares, o movimento Hizbollah no Líbano, e os “terroristas palestinos” (definição que engloba toda a população palestina de Gaza e Cisjordânia, submetida há quase 40 anos a controle militar israelense e inevitavelmente antagonista do Estado de Israel).
Quanto a estes, sem dúvida os principais “inimigos” da sociedade israelense, a abordagem do Likud ou do Kadima deve ser semelhante: ambos descartam negociações com os palestinos “enquanto não cessar a violência” e defendem o reforço da ocupação ilegal de amplas áreas da Cisjordânia por meio da construção de novos assentamentos e da extensão da chamada “cerca de Segurança” – que o ex-presidente Jimmy Carter, entre muitos outros, denominou “muro do Apartheid”.
Para aqueles que sofrem as agressões do expansionismo israelense, severamente condenado pelas Nações Unidas ao longo dos últimos quarenta anos, a diferença entre Netanyahu e Livni é a mesma que existe entre uma águia e um falcão, quando vistos pelos olhos aterrorizados de um hamster.