novembro 16, 2006

Pesadelo no Iraque e eleições derrubam Rumsfeld

Para júbilo e esperança daqueles que acreditam num futuro não tão tenebroso para a vida humana, cai o arquiteto dos ataques de 11 de Setembro
Não deu pra resistir: após a avassaladora vitória dos democratas, que assumiram o controle do Senado e da Câmara dos Deputados, o cérebro por trás da Doutrina Bush foi obrigado a pedir demissão. Nos últimos meses, vinha crescendo a oposição a Rumsfeld, não apenas entre os democratas, mas entre os próprios republicanos (vislumbrando a retomada do poder), entre os militares na reserva ou na frente de combate (criticando a incorreção da doutrina militar empregada no Iraque) e entre a população (preocupada com a alta do preço da gasolina e com o número excessivo de baixas estadunidenses - quase 3.000 mortos e mais de 46.000 feridos em três anos de guerra). É claro que a destruição da infra-estrutura do Iraque, o sucateamento dos poderes estatais e fragmentação étnico-religiosa do país, além do chocante número de 650.000 vítimas fatais, não são elementos considerados na política do gigante imperial (gigante, embora com pés de barro).

PROBLEMAS PARA OS DEMOCRATAS
A aparente derrota pode no entanto revelar-se salvadora para Bush. Com o controle das duas casas do Congresso, os democratas podem vetar a continuação da guerra no Iraque, exigindo a retirada imediata das tropas, ou estabelecendo prazos para a retirada gradual. De qualquer maneira, ficará mais fácil ao presidente em término de mandato justificar-se pelo fracasso estadunidense no Iraque (que, mais cedo ou tarde, ficará flagrante até mesmo para o aluado presidente e seus auxiliares diretos): afinal, terão sido os democratas os responsáveis pela derrota, ao imporem a retirada ou impedirem o envio de novas tropas. Por outro lado, se os democratas permitirem o aumento das tropas no Iraque, estarão apenas antecipando sua própria ruína, pois um número maior de soldados não garantirá a vitória – pelo contrário, aumentará o tamanho da derrota.

HISTÓRIA: RUMSFELD & SADDAM
Em 1983 e 1984, como enviado especial do presidente Ronald Regan, Rumsfeld esteve no Iraque, procurando reestabelecer relações diplomáticas de alto nível com o regime iraquiano, o que não ocorria desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967 (na foto, Saddam e Rumsfeld, em dezembro de 1983). Preocupados com o fortalecimento da República Islâmica do Irã (criada após a Revolução de 1979, que depôs o aliado estadunidense, xá Reza Pahlev), os Estados Unidos e as demais "potências ocidentais" forneceram armas e informação para o Iraque no confronto com o vizinho islâmico (os Estados Unidos venderam armas também ao Irã, assegurando que os dois se matassem, deixando os destroços para a rapinagem ocidental). Anos depois, ao invadir o Kwueit, Saddam acabou por perder seus antigos aliados.
Ver mais: Saddam Hussein, Donald Rumsfeld & the golden Spurs (ZMag)

novembro 08, 2006

Massacre em Gaza

Na calada da noite, bombardeio indiscriminado do Estado sionista mata crianças e mulheres palestinas
Com os dezoito mortos no ataque de ontem a Beit Hanun, sendo oito crianças e cinco mulheres, passam de 300 os palestinos mortos na Faixa de Gaza desde junho, quando o Estado sionista iniciou a vingança pelo seqüestro de um soldado de seu exército.
Líderes de (quase) todo o mundo imediatamente condenaram o massacre sionista em Beit Hanun - quase todo o mundo: como era de se esperar, até o momento os Estados Unidos eximiram-se de condenar a violência sionista, dando carta branca para o Estado judaico insistir na sua política de extermínio e encarceramento da população palestina.
No Líbano, o seqüestro de dois soldados sionistas pelo Hizbollah havia desencadeado a Guerra de Julho, quando, após despejar milhares de toneladas de bombas sobre a população civil e a infra-estrutura do Líbano, o Exército sionista foi vergonhosamente derrotado pela milícia libanesa, tendo de se retirar do país após a chegada dos capacetes azuis da ONU.
Já na Palestina, que não tem as mesmas conexões internacionais que o Líbano, o massacre continua desde o mês de junho, quando foi seqüestrado o soldado Gilad Shalit, e os mortos entre a população da Faixa de Gaza já ultrapassam os 300.
No ataque desta quarta-feira, o pior ataque isolado contra palestinos em quatro anos, 18 pessoas foram mortas (sendo 13 da mesma família) e mais de 50 ficaram feridas em ataque da artilharia sionista a um conjunto de cinco blocos de apartamentos, onde dezenas de famílias dormiam. Testemunhas relatam que as explosões foram tão violentas que pedaços dos corpos das pessoas que dormiam espalharam-se pela rua. Segundo o Exército sionista, tratou-se de uma "fatalidade", pois estes civis ocupavam áreas das quais foram sido disparados foguetes contra o Estado judaico (na última semana foram disparados 36 destes foguetes, causando ferimentos leves em três cidadãos do Estado sionista).
Em outros eventos no mesmo dia, dois palestinos foram mortos no campo de refugiados de Jabaliya, e cinco outros numa incursão sionista a uma aldeia próxima de Jenin, elevando para 80 o número de palestinos mortos na última semana.


Círculo vicioso
Alguns líderes do grupo Hamas e mesmo do moderado partido Fatah clamaram pela retomada dos ataques suicidas contra o Estado sionista, dois anos após estas facções terem concordado em cessar estes ataques dentro do território sionista. Como diversos analistas já alertar, entretanto o governo militarista do Estado sionista parece ignorar, é a conduta expansionsita, belicista e desumana do Estado sionista que gera a resistência palestina, e uma das formas que esta resistência assume (pela falta de acesso a armas mais eficientes) é o ataque suicida. Esperem para breve, portanto, novos ataques suicidas contra a população sionista vivendo em suas grandes cidades.


VER MAIS
Children among 19 killed by Israeli tank fire (The Guardian)
Israel kills 18 civilians in Gaza shelling (Reuters)
Wounded Gaza teenager mourns 13 family members (Reuters)
Scores of Palestinians killed in Gaza massacre (Middle East Online)
Hamas chief threatens to avenge Gaza massacre (Middle East Online)
Israel 'apology' as Palestine mourns dead (Al-Jazeera)

novembro 06, 2006

Condenação de Saddam serve a interesses eleitorais nos EUA

Foi bastante conveniente para o Partido Republicano, no poder nos Estados Unidos, a condenação à morte do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, ocorrida dois dias antes das eleições para o congresso e para alguns governos estaduais nos EUA.
A condenação vem em boa hora para os formuladores de políticas estadunidenses, pois vinha aumentando a intensidade das críticas à condução da guerra, o que indiretamente ameaçava a manutenção do poder legislativo nas mãos dos republicanos. Esta notícia vem se somar ao pequeno rol de boas notícias acumuladas pelos invasores nesta guerra, tais como a deposição do próprio Saddam, sua prisão, a aprovação de uma constituição e de um governo iraquianos, que o presidente estadunidense tenta vender a seus eleitores como evidências da vitória da "democracia" sobre o "terrorismo" - escondendo a triste realidade dos 3.000 mortos estadunidenses e 600.000 mortos iraquianos de uma guerra a cada dia mais violenta.
A execução de Saddam Hussein, responsabilizado pela morte de 148 xiitas em Dujail, em 1982, além de servir de alimento para a alma do público conservador estadunidense, teria uma importante finalidade para os Estados Unidos e aliados: evitar um novo julgamento, em que o antigo ditador seria julgado pelo massacre de 180.000 curdos entre os anos de 1986 e 1888 - massacre este realizado com armas químicas fornecidas pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha, à época os grandes mantenedores da ditadura de Saddam. Entretanto, colocaria para os Estados Unidos um novo problema: transformaria Saddam Hussein num herói para as massas árabes, especialmente sunitas.
O processo, assim, tem andamento certo: condena-se o antigo ditador em primeira instância, realizam-se as eleições nos Estados Unidos, e posteriormente comuta-se a pena para algo menos impactante sobre o imaginário sunita, como uma prisão perpétua, empurrando-se com a barriga um eventual processo pela limpeza étnica dos curdos até que o antigo ditador morra de "causas naturais", enterrando consigo todos os segredos que não devem ser revelados.

PS: Não é excessivo lembrar que grande parte da comunidade internacional vem considerando inválido o tribunal estabelecido para julgar Saddam, pois foi criado e conduzido por aqueles que destituíram o antigo ditador do poder, enquanto o mais correto e legítimo seria levar o ditador a julgamento na Corte Internacional de Justiça.