setembro 21, 2006

Se isso não é guerra civil...

Enquanto os governos do Ocidente e o secretário-geral da ONU alertam para a possibilidade de que uma guerra civil venha a ocorrer no Iraque, a realidade da população iraquiana indica que a guerra civil já ocorre há muito tempo - conjugada com a guerra contra os exércitos invasores dos EUA, Grã-Bretanha & Aliados.
Os últimos números fornecidos pela ONU indicam que, nos meses de julho e agosto, 6.599 civis iraquianos foram mortos - uma média superior a 100 mortes por dia (Morte de civis atinge número recorde no Iraque, O Estado de São Paulo). No total, estima-se por volta de 45.000 os iraquianos mortos desde o início da guerra (ver números em Iraq Body Count).
E, assim, vai se concretizando o plano imperialista: a divisão do Iraque em três novos Estados étnicos e sectários, tornando mais fácil a apropriação de seus recursos energéticos (como nos anos 1930 a 1950 se fez com o mesmo Iraque e com a Arábia, sendo criados o Kwuait e os diversos emirados árabes, tais como Bahrein, Omã e Catar). A velha máxima de Machiavel continua mais do que nunca valida: dividir par governar.
Do ponto de vista do invasor, a situação tampouco é confortável. Hoje encontram-se no Iraque 147.000 soldados estadunidenses - o dobro do que havia sido previsto há um ano, quando, de maneira otimista, a liderança militar ianque prometia a diminuição gradual dos contingentes - e já se fala na necessidade de mais homens para garantir a segurança do povo iraquiano (leia-se petróleo). O número de mortes entre os soldados também vem se mantendo alto (média acima de 2,5 mortes e 20 feridos por dia) - o que significa que, a cada soldado estadunidense morto, morrem mais de 40 civis iraquianos. Números oficiais dão conta de 2.926 soldados da coalizão mortos, sendo 2.692 estadunidenses. (ver números em
I-Casualties. org - OIF) O que dizer da espalhafatosa aparição de Bush num porta-aviões em maio de 2003, para anunciar "missão cumprida"? Fosse ele lusófono, e acreditaríamos que ele quis dizer "missão comprida"...
E, no Afeganistão, revela-se estranha estatística para quem acreditava que destruir o Talebã seria um "passeio": o número de soldados da "coalizão" mortos vem crescendo ano a ano (com a exceção de 2003), e os últimos meses têm visto a escalada do conflito (com novos soldados sendo enviados pela coalizão). Só para ilustrar: enquanto no ano de 2002 foram mortos 68 soldados, no ano de 2006 (incompleto) o número chega a 157. (ver números em
I-Casualties.org - OEF) Enquanto isso, sob o governo endossado pelos Estados Unidos, as plantações de papoula para a produção de ópio voltam a níveis pré-Talebã.
Qualquer semalhança com o Vietnã não é mera coincidência. Até o quarto ou quinto ano do envolvimento estadunidense na Indochina, o país não havia percebido que estava em guerra. Os números, tanto de soldados enviados à Ásia como de mortos em combate, não eram significativos para comover a população, ou para prever os 15 anos de conflito que tirariam a vida de 55.000 estadunidenses e um milhão de vietnamitas. Apenas quando o envolvimento ianque entrou em seu décimo ano (por volta de 1968) o número de baixas começou a ser realmente questionado pela população - e mesmo assim, os militares continuavam afirmando: "Estamos próximos da vitória final". A vitória final, efetivamente, viria apenas em 1975 - a vitória do Vietnã do Norte comunista.

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